Ancilostomose – Necator americanus e Ancylostoma duodenale

 

A Ancilostomose é uma doença popularmente conhecida no Brasil por amarelão ou opilação. Foi referenciada por Monteiro Lobato com seu personagem Jeca-tatu. A doença ocorre em todo o território nacional com prevalência no Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.

 


Figura 1 – Propagando do biotônico Fontoura em 1935, demostrando o personagem Jeca-tatu de Monteiro Lobato. Ilustração de J.U.Campos. Disponível em: http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1035&sid=7

 

Agentes etiológicos

São três espécies do filo Nematoda que provocam a ancilostomose no ser humano:

·         Necator americanus

·          Ancylostoma duodenale

·          Ancylostoma ceylanicum

A primeira, Necator americanus, é a mais encontrada no Brasil, parasitando exclusivamente o ser humano. A última Ancylostoma ceylanicum, parasita cães e gatos, mas também consegue desenvolver doença em humanos, habitando o trato intestinal. A espécie Ancylostoma duodenale assim como a N. americanus se instala no aparelho digestório dos seres humanos, onde se fixam no intestino delgado, nutrindo-se de sangue do hospedeiro e causando anemia.

 Por serem espécies da mesma família, mas de gêneros distintos, apresentarão diferenças no ciclo biológico, comportamento larvário e morfologia.

 

Morfologia

As espécies passam por 3 fases morfológicas: adulta, larvária e ovo. A forma adulta é cilíndrica, possui cápsula bucal bem desenvolvida que possibilita a diferenciação da espécie, esôfago, intestino, reto e aparelho genital. O dimorfismo sexual é acentuado com os órgãos genitais ocupando grande parte do corpo. Os machos possuem em sua extremidade uma bolsa copulatória e duas espículas. A fêmea, por sua vez, é maior que o macho e apresenta a extremidade fina. Os adultos do gênero Ancylostoma tem o formato curvado que lembra a letra C, já no gênero Necator, em comparação, os adultos são menores e apresentam duas curvaturas, lembrando a letra S. Outra característica que ajuda na diferenciação das espécies é a cápsula bucal, o gênero Ancylostoma tem estruturas semelhantes a dentes, enquanto o gênero Necator possui lâminas cortantes.

Os parasitos pertencem ao filo Nematoda, portanto, as formas larvárias desse filo passam por quatro mudas durante seu ciclo. Nesse caso a muda ou ecdise é quando o parasito troca o revestimento da cutícula. Cada etapa da larva é denominada estádio larvário, para simplificar usamos a letra L mais um número correspondente. Por exemplo L1, significa larva 1 ou simplesmente estágio larvário 1.

Por fim, os ovos são elipsoides, incolores, com casca fina e transparentes. Em seu interior é possível identificar uma massa de células embrionárias. Nos dois gêneros o ovo é muito semelhante, impossibilitando a distinção das espécies.

 

Ciclo biológico

É monoxeno e o parasito se desenvolve no meio externo e dentro do hospedeiro. Quando os ovos são liberados nas fezes e encontra no meio ambiente condições ideais de temperatura, umidade e oxigenação, ocorrerá a eclosão, saindo de dentro dele uma larva em estágio larvário 1 (L1). Essa larva se alimenta de detritos do ambiente e sofrerá a primeira muda, tornando-se uma larva de estágio 2 (L2). Após um tempo sofrerá a segunda muda passando para o estágio larvário 3 (L3). Essa última larva é a forma infectante para o ser humano.

O ser humano pode se infectar de duas maneiras, tanto pela penetração ativa do parasito pela pele ou quanto pela sua ingestão. Os parasitos do gênero Necator se desenvolvem somente quando a L3 penetra pela pele, mucosa ou conjuntiva. Já o gênero Ancylostoma consegue desenvolver a doença quando penetra no hospedeiro pelas duas vias. Abordaremos primeiro da via dérmica, comum aos dois gêneros.

Via dérmica

A larva L3, que é a forma infectante, penetra de forma ativa na pele. Para completar o seu ciclo ela deve passar obrigatoriamente pelo pulmão. Portanto, adentra o tecido até encontrar uma corrente sanguínea ou um vaso linfático, indo para o coração e sendo bombeada para o pulmão. Nesse órgão, ela sofre a quarta muda, tornando-se uma larva de estágio 4 (L4), indo do pulmão em direção à laringe e faringe. Após deglutida ela passa pelo sistema digestório para chegar ao seu habitat, o intestino delgado. É nesse órgão que ela passa a ser L5 e se transformará em verme adulto, acasalará e produzirá ovos. Os ovos são, então, eliminados no ambiente com as fezes do hospedeiro.

Via oral

Na transmissão por via oral o parasito não passa pelo pulmão. A larva L3 ingerida chega ao intestino e penetra na mucosa e dentro do tecido se transforma em L4, volta para a luz do intestino e evolui para L5. Dessa forma se desenvolve em adultos, reproduzem e eliminam ovos. Lembrando que apenas o gênero Ancylostoma é capaz de se desenvolver por essa via de transmissão.

 

Sintomatologia

A doença possui uma fase aguda e outra crônica. A primeira é marcada pela migração das larvas e pela instalação do verme adulto no intestino. Sendo o aparecimento de dermatite no local da penetração larvária, pequenas lesões quando ela passa pelo pulmão e lesões no intestino pela fixação da larva. Os sintomas mais frequentes são os intestinais, com dores, cólicas, flatulências, náuseas e vômitos. A fase crônica está relacionada com a biologia do parasito, pois ele ingere uma quantidade significativa de hemácias por dia. Essa ingestão intermitente pode causar anemia, deixando o hospedeiro com sensação de fraqueza, cansado, desnutrido e com coloração pálida ou amarelada. Em hospedeiros bem nutridos, a anemia não se torna evidente.

 

Diagnóstico

O diagnóstico é realizado pelo exame de fezes, procurando os ovos do parasito. Os exames sorológicos comumente utilizados são: o ensaio imunoenzimático - ELISA (Enzyme-linked Immunosorbent Assay), hemoaglutinação, fixação do complemento, imunofluorescência, dentre outros. O método molecular reação em cadeia da polimerase PCR (Polymerase Chain Reaction), pode ser usado para identificar a espécie, mas o exame de distinção mais empregado é a coprocultura.

 

Tratamento

O tratamento é feito com fármacos da classe das pirimidinas ou benzimidazois. Em casos de anemia, pode ser receitado um suplemento de ferro junto com a melhora da alimentação. O tratamento deve ser feito concomitantemente com medidas preventivas para evitar reinfecções.

 

Prevenção

A prevenção, como acontece com outros parasitos do trato intestinal se baseia no saneamento básico, correta higiene pessoal, lavagem de alimentos, consumir água tratada ou fervida, tratamento dos doentes e diagnóstico precoce.

 

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Bons estudos!!!

 

Para a escrita desse texto as referências abaixo foram consultadas

 

NEVES, David Pereira; MELO, Alan Lane de; LINARDI, Pedro Marcos; VITOR, Ricardo W. Almeida. Parasitologia Humana. 11 ed. São Paulo: Atheneu, 2004.

PALMA, Ana. Monteiro Lobato e a origem de Jeca Tatu. Invivo fiocruz, 2021. Disponível em:<http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1035&sid=7 >. Acesso em 07 de fev. de 2021.

REY, Luís. Bases da parasitologia médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. Ebook. ISBN 978-85-277-2026-7. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2026-7

SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo; GOMES, Andréia Patrícia; SANTOS, Sávio Silva. SANTANA, Luiz Alberto. Parasitologia: fundamentos e prática clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. Ebook. ISBN 9788527736473. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788527736473.

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