Taenia saginata e Taenia solium e suas doenças: teníase e cisticercose

 

As tênias fazem parte da classe Cestoda, são hermafroditas, de coloração esbranquiçada, possuem o corpo achatado dorsoventralmente e segmentado, sem tubo digestório e com órgão reprodutores superdesenvolvidos. As espécies da família Taeniidae capazes de parasitar o ser humano são: Taenia asiatica, Taenia solium e Taenia saginata. A T. asiatica é restrita ao continente asiático e as duas últimas são encontradas no Brasil, portanto abordaremos apenas sobre elas no decorrer do texto.

 

Morfologia

As espécies da família Taeniidae apresentam três fases evolutivas: adulta, ovo e cisticerco. Na fase adulta o verme é divido em escólex, pescoço e corpo. No escólex, também chamado de cabeça, existem estruturas de fixação no formato de ventosas ou ganchos, que ajudam na fixação do parasito no intestino. O pescoço ou colo é a parte mais grossa do verme, local de intensa multiplicação, na qual é produzido as proglotes. Por fim, o corpo ou estróbilo é segmentado e cada segmento é nomeado de proglote. É nas proglotes que estão os órgãos reprodutores do parasito, tanto o feminino quanto o masculino. Ao ocorrer a fecundação, a proglote passa a ser chamada de proglote gravídica, tendo ovos em seu interior.

Os ovos das duas espécies são idênticos microscopicamente. São redondos e possuem uma parede dupla, de cor marrom escura. Em seu interior está o embrião, chamado de oncosfera.

Os cisticercos são vesículas cheias de líquidos com um escólex invaginado. Desenvolvem a partir da oncosfera, alojando-se nos músculos e tecidos do hospedeiro.

 

Diferenças morfológicas

Na Taenia solium o escólex apresenta ganchos e ventosas, enquanto a Taenia saginata apresenta apenas as ventosas. Se precisar memorizar essa informação, pode usar a semelhança da palavra solium com sol, quando se desenha o sol, você faz vários ganchos para representar os raios solares, portanto, somente a Taenia solium apresenta os ganchos. Outra diferença está nas proglotes, importante para o diagnóstico diferencial das espécies. A quantidade de ramificações uterinas presentes nas proglotes de T. solium não ultrapassa dez, enquanto as proglotes de T. saginata apresentam 12 ou mais ramificações.

 

Hospedeiros

Esse parasito precisa de um hospedeiro definitivo e um hospedeiro intermediário. O hospedeiro definitivo é o ser humano e é nele que o parasito se desenvolve por completo e chega à forma adulta. O hospedeiro intermediário é diferente para as duas espécies de tênia: a T. solium parasita o porco e a T. saginata parasita o boi.

Se precisar memorizar, vamos relacionar os nomes. Na palavra saginata está incluso a palavra nata, que lembra de leite e leite lembra vaca, portanto a Taenia saginata parasita vacas e bois.

 

Ciclo biológico

A contaminação do hospedeiro intermediário ocorre pela ingestão de ovos de suas respectivas espécies de tênia, Taenia saginata para o boi ou Taenia solium para o porco. Ao chegar ao intestino o ovo perde a dupla parede e libera a oncosfera. Essa penetra no epitélio e chega à corrente sanguínea, indo para diversos tecidos, com preferência para os mais oxigenados. No tecido a oncosfera dá origem ao cisticerco que pode ficar alojado por muitos anos.

 A infeção do hospedeiro definitivo acontece quando ele se alimenta de carne crua ou malcozida contendo cisticercos. No intestino esses cisticercos fixam seu escólex no epitélio e se desenvolvem em vermes adultos, liberando proglotes e ovos nas fezes. Esses ovos contaminam o ambiente e permitem o recomeço do ciclo.

 

Teníase

A teníase é o nome da doença quando o ser humano apresenta o verme adulto no intestino, provocando sintomas intestinais como cólicas, diarreia e desconfortos abdominais. Como o parasito compete por nutrientes e pode chegar a metros de comprimento, há relatos de desnutrição e obstrução intestinal. A teníase é adquirida ao comer carne crua ou malcozida com cisticercos de Taenia solium ou Taenia saginata.

 

Cisticercose

A cisticercose humana é a doença provocada quando o ser humano faz o papel de hospedeiro intermediário, ingerindo os ovos da T. solium. Apenas os ovos da T. solium causam cisticercose e o ciclo funciona como no hospedeiro intermediário. O ovo, ao chegar no intestino libera a oncosfera, que vai para a corrente sanguínea, músculos e demais órgãos, com preferência para o cérebro, olhos e músculo esquelético. Note a diferença, na teníase, o ser humano ingere o cisticerco na carne, já na cisticercose ele ingere ovos que podem estar presentes na água e alimentos contaminados. Para ficar mais fácil, relacione com o desenvolvimento do parasito de forma linear, sendo: ovo, cisticerco e tênia. Se o humano ingere o ovo, ele terá cisticercose, se o humano ingere o cisticerco, ele terá a teníase.

No começo da infecção a doença é assintomática, pois o parasito consegue escapar do sistema imunológico. Mas quando o parasito morre, provoca inflamação, edema e a infecção é controlada pela reconstrução da lesão, formando cicatriz ou pela calcificação do cisto.

Quando os cisticercos se alojam no cérebro, a doença é chamada de neurocisticercose. Dependendo do local do cérebro atingido a doença pode variar de branda a fatal. Os sintomas mais comuns são os de convulsões, dores de cabeça, náusea e vômitos e outros mais preocupantes. Podendo haver casos fatais se não tratados.

Quando o cisticerco acomete outros órgãos e músculos, o paciente não apresenta sintomas ou eles são locais.

 

Diagnóstico

Teníase – é feito preferencialmente com exame de fezes procurando ovos e proglotes. Os ovos das duas espécies de tênia são idênticos microscopicamente, mas com as proglotes é possível identificar a espécie do parasito. A proglote da T. solium apresenta até 10 ramificações uterinas, enquanto a da T. saginata 12 ou mais ramificações. As proglotes podem ser obtidas pelo processo de tamisação do bolo fecal.

Cisticercose – é um diagnóstico mais difícil, pois o parasito se aloja em diferentes tecidos e órgãos. Além da anamnese do paciente, podem ser solicitados exames de tomografia computadorizada, ressonância magnética, exame de fundo de olho, biopsia, radiografia ou exames sorológicos. Cada caso deve ser estudado.

 

Tratamento

No caso de teníase é feito apenas com um antiparasitário. Para o uso de certos antiparasitários deve ser comprovado que o paciente não possui neurocisticercose, pois pode levar ao agravamento dos sintomas. Apenas um médico poderá indicar o melhor tratamento.

O tratamento da cisticercose depende do local que o parasito se alojou. Normalmente é usado um antiparasitário específico e outro fármaco para controlar os sintomas, como corticoides e anticonvulsivantes.

 

Profilaxia

A profilaxia consiste em interromper o ciclo biológico através do saneamento básico, prática correta da higiene pessoal, não consumir carne de porco crua ou malpassada, melhor avaliação sanitária das carnes para consumo, tratamento dos doentes, consumir água tratada e lavar bem os alimentos. Não existe vacina para humanos, mas existem vacinas para o gado, que tem a finalidade de evitar a formação de cisticercos em seu organismo. A vacina para porcos ainda está em desenvolvimento.          

 

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Bons estudos!!!

 

Para a escrita desse texto as referências abaixo foram consultadas

NEVES, David Pereira; MELO, Alan Lane de; LINARDI, Pedro Marcos; VITOR, Ricardo W. Almeida. Parasitologia Humana. 11 ed. São Paulo: Atheneu, 2004.

REY, Luís. Bases da parasitologia médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. Ebook. ISBN 978-85-277-2026-7. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2026-7

SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo; GOMES, Andréia Patrícia; SANTOS, Sávio Silva. SANTANA, Luiz Alberto. Parasitologia: fundamentos e prática clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. Ebook. ISBN 9788527736473. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788527736473.

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