A malária humana
Agentes etiológicos
Os
agentes etiológicos da malária são protozoários do gênero Plasmodium de
distribuição mundial presentes em mais de 80 países. Apenas quatro espécies parasitam
o ser humano: Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax, Plasmodium
malariae e Plasmodium ovale. Elas se diferem entre si pela preferência da maturidade da
célula parasitada, morfologia parasitária, duração do ciclo eritrocítico e pela
gravidade da doença que causam. Mesmo havendo distinções entre as espécies o
ciclo biológico e o vetor são os mesmos.
Plasmodium falciparum – causa a forma da malária mais grave, seu ciclo eritrocitário ocorre em
48 horas e é chamada de malária terçã maligna. Ele parasita tanto células
vermelhas jovens quanto maduras (reticulócitos e eritrócitos, respectivamente).
Nos exames hematoscópios do sangue periférico, são encontrados apenas os
trofozoítos e gametócitos, pois os esquizontes preferem habitar a circulação
profunda.
Plasmodium vivax – é a forma mais comum no
Brasil e é mais branda que a malária por P. falciparum, provocando a
malária terçã benigna, também com ciclo de 48 horas. Todavia, apesar de ser considerada
benigna, causa morbidade grave especialmente em pessoas de área não endêmica.
Plasmodium malariae – causa a forma mais branda da doença denominada malária quartã por
possuir um ciclo de 72 horas.
Plasmodium ovale – é restrita ao continente africano e responsável por outra forma de malária terçã benigna, com ciclos de 48 horas.
Morfologia
O Plasmodium sp. assume diferentes morfologias em seu ciclo, podendo ser encontrado dentro das hemácias nas formas de trofozoítos, esquizontes, microgameta e macrogameta. Mas possui outras morfologias além dessas, como esporozoítos, merozoítos, hipnozoítos, oocistos e oocinetos.
- Esporozoítos – São as formas alongadas e infectantes localizadas no inseto. Após saírem dos esporocistos colonizam todo o corpo do inseto se acumulando nas glândulas salivares. É capaz de infectar hepatócitos no hospedeiro vertebrado.
- Trofozoítos – Formas intracelulares arredondadas presentes no hospedeiro vertebrado. Podem ser trofozoítos hepáticos, presentes dentro do hepatócito ou trofozoítos sanguíneos, dentro dos eritrócitos. Vão se reproduzir assexuadamente por esquizogonia originando os esquizontes. Podem ser divididos ainda em trofozoítos jovens e trofozoítos maduros.
- Esquizontes – Originados da divisão de núcleos dos trofozoítos. À medida que o trofozoíto amadurece os seus núcleos se multiplicam originando os esquizontes, que dará origem aos merozoítos. Eles podem ser esquizontes hepáticos, também chamados de criptozoitos, ou esquizontes sanguíneos, também denominados merocitos.
- Merozoítos – Forma gerada nos esquizontes hepáticos ou sanguíneos. É responsável pela infecção dos eritrócitos e podem ser de dois tipos: merozoítos hepáticos, que são provenientes de esquizontes hepáticos, ou merozoítos sanguíneos, formados por esquizontes sanguíneos.
- Microgameta – Forma sexual masculina gerada a partir de um merozoíto.
- Macrogameta – Forma sexual feminina gerada a partir de um merozoíto.
- Zigoto e oocineto – Formado pela junção de um microgameta com um macrogameta. O zigoto é imóvel, porém em algumas horas ele consegue se movimentar, passando a ser chamado de oocineto.
- Oocisto – Forma adquirida quando o oocineto penetra no epitélio intestinal do inseto. O oocisto passa a produzir esporocistos por esporogonia. Os esporocistos são liberados com a ruptura do oocisto.
- Hipnozoítas – São esporozoítos que após penetrarem nos hepatócitos do hospedeiro vertebrado ficam em estado de latência, podendo permanecer inativos por muitos meses.
Ciclo biológico
O ciclo
passa por dois hospedeiros, um vertebrado, o ser humano e o invertebrado, o
inseto fêmea do gênero Anopheles. Começando pelo hospedeiro
vertebrado: quando o inseto infectado pica o ser humano para se alimentar,
esporozoítos presentes em sua saliva conseguem penetrar na pele. Eles alcançam
a corrente sanguínea e vão para o fígado parasitar os hepatócitos, dentro deles
ocorre a multiplicação do parasito por esquizontes hepáticos, resultando na
formação de merozoítos. Chegará um ponto em que a célula não suportará a
quantidade de merozoítos e se romperá, liberando-os na corrente sanguínea. Os
merozoítos invadem hemácias, se transformando em trofozoítos, que se reproduzem
por esquizogonia, dando origem a um esquizonte sanguíneo, que resultará em mais
merozoítos. Esses merozoítos podem invadir mais hemácias e continuar o ciclo
eritrocítico dentro do hospedeiro, ou podem se diferenciar em gametas, formando
o macrogameta e o microgameta. O rompimento das hemácias pela liberação de
merozoítos na corrente sanguínea ocorre quase ao mesmo tempo, causando os
sintomas da malária.
No hospedeiro
invertebrado somente os gametócitos sobrevivem. Eles se reproduzem
sexuadamente formando um zigoto, após um tempo o zigoto consegue se
movimentar, recebendo o nome de oocineto. Esse oocineto penetra na parede
intestinal do inseto e começa a esporogonia, produzindo os esporocistos. Esses
esporocistos colonizam todo o corpo do inseto vetor, se alojando também nas
glândulas salivares, permitindo o recomeço do ciclo. Somente no vetor ocorre a
produção de esporocistos.
Se
relacionássemos as formas que o parasito assume de forma linear teríamos:
esporocistos, trofozoítos hepáticos, reproduzem em esquizontes hepáticos,
merozoítos hepáticos, trofozoítos sanguíneos, esquizonte sanguíneo, merozoítos
sanguíneos, gametócitos, fecundação, oocineto, oocisto e esporozoítos.
Figura 1 - Ciclo da malária humana.
Sintomas
A doença
é provocada pelo rompimento das hemácias causando febre, calafrio e suor. Esses
sintomas desaparecem em algumas horas recomeçando quando um novo
ciclo eritrocitário do parasito é completado. Como são sintomas comuns a
malária pode ser confundia com outras doenças, principalmente em áreas que ela
não é endêmica. Além desses sintomas observa-se anemia, fraqueza muscular,
aumento do baço, vômitos e dor de cabeça. O P. falciparum, que provoca a
forma mais grave da doença, consegue fazer com que a hemácia parasitada se fixe
no epitélio dos vasos e ainda faz com que hemácias próximas a eles se agreguem,
resultando na formação de rosetas, que dificulta o fluxo sanguíneo no local.
Diagnóstico
O
diagnóstico é a demonstração do parasito ou de seus antígenos no sangue. Para
isso podem ser feitos o exame da gota espessa e esfregaço sanguíneo localizando
as formas do parasito ao microscópio. Um microscopista treinado consegue
identificar a espécie do parasito apenas com esses dois exames. Porém, quando
os parasitos no sangue são poucos, outros exames como teste rápido e a reação em
cadeia da polimerase PCR (Polymerase Chain Reaction) são necessários,
mas eles não dispensam o exame parasitológico, feitos com o sangue.
Tratamento
O
tratamento utiliza uma combinação de fármacos, pois não existe um que atua em
todas as formas do parasito. Sendo um necessário para matar as formas
sanguíneas e outro para matar as formas hepáticas. Ainda pode ser utilizado mais
um fármaco contra as formas sexuais, os gametócitos. A posologia varia conforme
a espécie do Plasmodium e há uma grande preocupação com cepas de P.
falciparum, resistentes a alguns fármacos.
Profilaxia
Consiste
em combater os vetores, os insetos do gênero Anopheles com o uso de
telas, repelentes, inseticidas, roupas longas, enfim, evitando que os insetos
tenham contato com o ser humano. Ainda existe a quimioprofilaxia, na qual
fármacos antimaláricos são utilizados para evitar que se contraia a doença.
Esse método é controverso e o ministério da saúde só o recomenda em casos
específicos.
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Bons estudos!!!
Para a escrita desse texto
as referências abaixo foram consultadas
NEVES, David Pereira; MELO,
Alan Lane de; LINARDI, Pedro Marcos; VITOR, Ricardo W. Almeida. Parasitologia
Humana. 11 ed. São Paulo: Atheneu, 2004.
REY, Luís. Bases da parasitologia médica. 3. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2009. Ebook. ISBN 978-85-277-2026-7. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2026-7
SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo;
GOMES, Andréia Patrícia; SANTOS, Sávio Silva. SANTANA, Luiz Alberto. Parasitologia: fundamentos e prática clínica. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. Ebook. ISBN 9788527736473. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788527736473.
Adorei 😍
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