Esquistossomose

A esquistossomose é uma doença causada por um trematódeo do gênero Schistosoma. As espécies que parasitam o ser humano são: Schistosoma mansoni, Schistosoma haematobium¸ Schistosoma japonicum, Schistosoma mekongi, Schistosoma intercalatum e Schistosoma guinensis. As três primeiras são as mais comuns.

Schistosoma haematobium – agente etiológico da esquistossomose vesical, também chamada de esquistossomose urinária, geniturinária ou hematóbica. O ser humano é o principal hospedeiro vertebrado, a espécie raramente parasita outros animais quando a transmissão ocorre na natureza. É encontrada no continente africano e oriente médio com alta prevalência no Egito. O molusco do gênero Bulinus é seu hospedeiro intermediário.

Schistosoma japonicum – agente etiológico da esquistossomose japônica, também chamada de moléstia de Katayama. Admite vários mamíferos como hospedeiro vertebrado. É encontrado na Ásia e tem como hospedeiro invertebrado caramujos do gênero Oncomelania.

Schistosoma mansoni – encontrada na América do Sul, África e Antilhas. Como é a única espécie encontrada no Brasil, falaremos mais sobre ela e a doença que ela provoca.

 

A doença

A doença causada por Schistosoma mansoni pode ser chamada de esquistossomose intestinal ou mansônica, xistossomose, doença dos caramujos ou ainda popularmente por barriga d’água. A sua distribuição geográfica está ligada ao seu vetor e hospedeiro intermediário, um caramujo do gênero Biomphalaria. Ele habita a água doce, podendo ser encontrado em rios, lagos, lagoas, recursos hídricos para irrigação e em bacias hidroelétricas.

 

Morfologias

O parasito apresenta as seguintes morfologias: ovo, miracídio, esporocisto, cercária, esquistossômulos e verme adulto.

Ovo – Tem formato oval com um espinho voltado para trás e em seu interior está o miracídio. O ovo é liberado com as fezes do hospedeiro definitivo infectado. Uma fêmea de Schistosoma pode liberar mais ou menos 300 ovos por dia. A expectativa de vida do ovo é de 20 dias dentro do hospedeiro definitivo e de 2 a 5 dias no ambiente externo.

Miracídio – Tem formato cilíndrico e eclode do ovo na presença de água hipotônica. É recoberto por cílios que o ajudam na movimentação. Sabe-se que o miracídio é atraído quimicamente para o caramujo. Sobrevivem de 8 a 12 horas na água, perdendo a capacidade de nadar e penetrar no caramujo com 10 horas de vida.

Esporocisto – É a forma encontrada dentro do caramujo. O miracídio quando penetra no caramujo perde o epitélio ciliado dando origem ao esporocisto primário. Ele se multiplica formando esporocistos filhos, que darão origem às cercárias ou podem se multiplicar, originando mais esporocistos. As cercárias são produzidas no interior do esporocisto e um único esporocisto pode originar até 300 mil cercárias.

Cercária – Sai do tegumento do caramujo. Apresenta uma cauda bifurcada que a ajuda a nadar na água. A agitação da cauda faz com que a cercária fique na superfície, com o tempo e com o gasto de energia, a cauda diminui sua movimentação e as cercárias sedimentam. Para a penetração no hospedeiro definitivo, ela apresenta duas ventosas, uma para se fixar na pele e outra para penetrar.

Esquistossômulo – Quando a cercária penetra na pele do hospedeiro, ela perde a cauda bifurcada e se transforma em um esquistossômulo. Ele penetra na pele e alcança a corrente sanguínea, indo para o pulmão e depois para o sistema porta. Os esquistossômulos se alimentam e se desenvolvem nas veias do sistema porta.

Verme adulto – Apresentam dimorfismo sexual, no qual o macho é menor e mais claro que a fêmea e atinge a maturidade primeiro. A fêmea só completa o seu desenvolvimento ao se acasalar com o macho, ficando alojada no canal ginecóforo. Ela põe os ovos um por um na submucosa do intestino grosso, pode colocar até 300 ovos por dia. A vida útil dos adultos é de até 5 anos.

 

Ciclo biológico

O ciclo da doença começa quando ovos do Schistosoma presente nas fezes humanas entrarem em contato com água. O embrião contido nesses ovos, chamado miracídio, precisa da água para se libertar. Esses miracídios livres na água ficam nadando em círculos até encontrar um caramujo, penetrando em sua mucosa. Dentro do caramujo, o miracídio se transforma em esporocisto, amadurece e se torna esporocisto II. Ele tem um formato alongado e produz cercárias em seu interior, quando as cercárias estão prontas, saem do esporocisto e atravessam o tegumento do caramujo até alcançar o meio externo.

Na água, as cercárias nadam com o auxílio de sua cauda bifurcada. Ao encontrar um hospedeiro vertebrado conseguem penetrar na pele e mucosa, lembrando que elas são capazes de infectar vários vertebrados, mas só se desenvolvem por completo no ser humano. A penetração pode provocar vermelhidão e inchaço. As cercárias perdem sua cauda após a penetração no hospedeiro e recebem o nome de esquistossômulos, já dentro do hospedeiro. As larvas ficam um tempo na pele até conseguirem alcançar a corrente sanguínea, migrando para o pulmão. Lá elas se desenvolvem e vão para o sistema porta, no fígado. Nesse órgão, os esquistossômulos ficam nadando contra a corrente dentro dos vasos sanguíneos, se desenvolvendo até se tornarem adultos.

Os vermes adultos apresentam dimorfismo sexual, ou seja, existe diferença entre o verme macho e fêmea. O macho é menor e mais claro do que a fêmea e possui uma estrutura importante, o canal ginecóforo. No acasalamento, esse canal abrigará a fêmea e eles deslocarão juntos pelas veias mesentéricas inferiores onde a fêmea faz a postura dos ovos. As veias mesentéricas fazem parte do sistema porta e são aquelas que irrigam o intestino grosso. Portanto, os ovos são colocados um por um no tecido intestinal onde podem ser destruídos ou levados para o fígado com a corrente sanguínea ou ainda migrarem para a luz do intestino, saindo para o meio externo com as fezes.

 

Sintomatologia

O primeiro sintoma ocorre no local no qual a cercária penetrou, causando vermelhidão, dor e inchaço. Fora isso, geralmente a doença é assintomática, mas pode provocar sintomas e até evoluir para casos graves. Por causa dos ovos que são postos no intestino, haverá sintomas intestinais mais comuns: diarreia, dor abdominal e mal estar. Fora esses sintomas, pelo fato dos vermes habitarem o sistema porta, haverá febre e inchaço do fígado e baço. Se a doença evoluir, pode causar cirrose hepática, ascite, que é o acúmulo de líquido na cavidade abdominal e lesões cardiopulmonares.

A gravidade da doença depende de vários fatores e podemos destacar: a carga parasitária, a resposta do hospedeiro, a linhagem do parasito, a duração da infecção e a frequência de reinfecções.

 

Diagnóstico

O diagnóstico é a anamnese junto com exames laboratoriais, com preferência para o exame de fezes feito com três amostras de dias alternados. Ainda pode ser realizado a biopsia e raspado retal. Os exames imunológicos existem, mas não são muito usados nos casos de esquistossomose por causa de falso-negativos e falso-positivos.

 

Tratamento

Para o tratamento são usados atualmente dois fármacos apropriados e somente um médico poderá indicar o melhor para cada caso. O critério de cura é feito com o exame de fezes, que deve ser negativo de quatro meses até um ano depois do tratamento.

 

Profilaxia

A profilaxia é o tratamento dos doentes, o combate aos caramujos do gênero Biomphalaria e a implementação do saneamento básico.

 

Se deseja aprofundar ainda mais acesse o livro de Educação em Saúde para o controle da esquitossomose. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/educacao_saude_controle_esquistossomose.pdf

 

Escute através do CastBox ou pelo Spotify.

 


Bons estudos!!!

 

Para a escrita desse texto as referências abaixo foram consultadas

 

NEVES, David Pereira; MELO, Alan Lane de; LINARDI, Pedro Marcos; VITOR, Ricardo W. Almeida. Parasitologia Humana. 11 ed. São Paulo: Atheneu, 2004.

REY, Luís. Bases da parasitologia médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. Ebook. ISBN 978-85-277-2026-7. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2026-7

SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo; GOMES, Andréia Patrícia; SANTOS, Sávio Silva. SANTANA, Luiz Alberto. Parasitologia: fundamentos e prática clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. Ebook. ISBN 9788527736473. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788527736473.

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