Filariose linfática por Wuchereria bancrofti

 

A bancroftose é uma doença que acomete o sistema linfático, causada pelo helminto nematódeo Wuchereria bancrofti. Também é conhecida por filariose linfática e popularmente por elefantíase. O nome popular está relacionado a um dos sintomas que se manifesta na fase crônica.

 

Hospedeiros

O parasito tem o ser humano como hospedeiro definitivo e no Brasil o inseto fêmea do gênero Culex como hospedeiro intermediário. A principal espécie transmissora é a Culex quinquefasciatus, um inseto hematófago de cor palha, pequeno e de hábitos noturnos, conhecido popularmente por pernilongo ou muriçoca.

 

Morfologia

Durante sua vida o parasito apresenta diferentes formas evolutivas, sendo: adulto, microfilária e formas larvárias. O adulto habita o sistema linfático e apresenta o corpo fino coberto por uma cutícula lisa. Existem diferenças morfológicas entre o macho e a fêmea, no qual macho é menor e com a extremidade curvada. A fêmea não põe ovos como outros helmintos, os ovos eclodem dentro dela, liberando as microfilárias, que seriam como o embrião do parasito. Assim, as microfilárias são soltas na corrente linfática pela fêmea grávida e migram para a corrente sanguínea.

Uma característica da microfilária é a presença de uma bainha flexível. Essa bainha é o resquício da membrana do ovo e ajuda na identificação da espécie. Outra característica interessante sobre essa forma evolutiva é que ela está presente em maior quantidade no sangue periférico durante a noite, por volta das 22 horas até às 4 da manhã. Durante o dia acredita-se que ela fica na circulação pulmonar.

As formas larvárias são originadas da microfilária e ocorrem no hospedeiro invertebrado. Os nematódeos passam por 4 mudas durante seu ciclo, nesse caso a muda ou ecdise é a troca o revestimento de cutícula pelo parasito. Cada etapa da larva é denominada de estádio larvário, para simplificar usamos a letra L mais um número correspondente. Por exemplo L1, significa larva 1 ou simplesmente estágio larvário 1. Sobre as formas larvárias de Wuchereria bancrofti, somente foram elucidadas as que estão presente no interior do vetor.

 

Ciclo biológico

Por serem dois hospedeiros, o ciclo é heteroxeno. As microfilárias só estão presentes no ser humano, que é o hospedeiro definitivo, apesar do parasito parasitar também outros animais.

Durante a alimentação do inseto hematófago a larva infectante, L3, penetra na pele indo para os vasos linfáticos. Nessa parte do ciclo, não se sabe ainda o que ocorre até a sua maturação para a forma adulta, há autores que acreditam que a larva sofra duas mudas nessa fase. As L3 levam cerca de um ano para crescerem, atingir a maturidade, reproduzir e soltar microfilárias. As microfilárias migram dos vasos linfáticos para a corrente sanguínea, enquanto os adultos permanecem nos vasos linfáticos. Quando o inseto se alimenta do sangue humano infectado ele ingere as microfilárias junto com o sangue. No interior do inseto, as microfilárias sobreviventes penetram a parede do estômago perdendo a bainha, migram até o músculo torácico e sofrem duas mudas, se tornando L1, L2 e finalmente em L3, a larva infectante. A L3 migra para a probóscide e lábios do inseto, penetrando na pele humana após a picada e recomeçando assim o ciclo.

 

Sintomatologia

A doença apresenta quatro tipos de manifestações:

Assintomática ou subclínica – quando as microfilárias são encontradas no sangue, mas o paciente não apresenta sintomas aparentes;

Fase aguda – o paciente apresenta sintomas como a linfangite e adenite, ou seja, há inflamação dos vasos linfáticos e linfonodos.

Fase crônica – se não tratada o paciente pode desenvolver linfedema, um edema de líquido linfático que não consegue ser drenado acumulando-se no tecido, o que provoca inchaço no membro afetado; haverá também a hidrocele, aparecimento de linfa na urina e elefantíase, que é quando o linfedema se torna irreversível.

Quadro de eosinofilia pulmonar tropical – muito rara, caracterizada pelo aparecimento de abscessos de eosinófilos contendo microfilárias no pulmão, manifestando asma brônquica e posteriormente leva ao comprometimento do órgão.

 

Diagnóstico

O diagnóstico é feito pela anamnese do paciente junto com exames laboratoriais. Os exames realizados têm como objetivo a visualização das microfilárias, com exames de sangue, principalmente a gota espessa ou exames de urina. Para a identificação de vermes adultos, pode ser usado a ultrassonografia, tentando visualizá-los nos vasos linfáticos. A sorologia também pode ser feita juntamente com diagnósticos moleculares, pesquisando a presença de DNA do parasito.

 

Tratamento

O tratamento é feito com medicação apropriada, porém a morte dos vermes pode provocar sintomas nos primeiros dias de tratamento.

Estudos mostraram que o parasito da filariose linfática necessita de uma relação endossimbiótica obrigatória com uma bactéria do gênero Wolbachia. Essa bactéria é essencial para o metabolismo do parasito em todas as suas formas evolutivas e pode estar associada com algumas manifestações da doença. Essa descoberta abriu estudos para novas formas de tratamento, como associação com antibióticos que ao eliminar as bactérias, consequentemente causa a morte dos vermes. Apesar deste tratamento causar menos efeitos colaterais, é muito mais lento que os já mencionados e ainda, é preciso de mais estudos.

 

Profilaxia     

A prevenção consiste principalmente no combate ao inseto vetor e a diminuição do seu contato com o ser humano, usando inseticidas, telas, mosquiteiros, entre outros métodos. Ainda é necessário o tratamento dos doentes e o saneamento ambiental, melhorando as instalações e redes de águas, para impedir a reprodução do inseto.             

 

Escute através do CastBox ou pelo Spotify.



Bons estudos!!!

 

Para a escrita desse texto as referências abaixo foram consultadas

NEVES, David Pereira; MELO, Alan Lane de; LINARDI, Pedro Marcos; VITOR, Ricardo W. Almeida. Parasitologia Humana. 11 ed. São Paulo: Atheneu, 2004.

REY, Luís. Bases da parasitologia médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. Ebook. ISBN 978-85-277-2026-7. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2026-7

SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo; GOMES, Andréia Patrícia; SANTOS, Sávio Silva. SANTANA, Luiz Alberto. Parasitologia: fundamentos e prática clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. Ebook. ISBN 9788527736473. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788527736473.

Comentários

  1. Excelente post sobre Filariose linfática!

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante. Parabéns 👏👏👏

    ResponderExcluir
  3. Estudo super abrangente e que demonstra o conhecimento pleno sobre o assunto! Excelente e, é muito bom saber que no Brasil ainda existem estudiosos dedicados e com tamanha astúcia para a busca da ciência e do conhecimento!
    Parabéns !!!!
    Que "CRISTO" ilumine sempre o seu caminhar, seja na vida e, na ciência !!!

    ResponderExcluir
  4. Excelente estudo! Parabéns pela dedicação!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ancilostomose – Necator americanus e Ancylostoma duodenale

Ascaridíase e o Ascaris lumbricoides

Toxoplasmose e o Toxoplasma gondii