Toxoplasmose e o Toxoplasma gondii
O Toxoplasma
gondii é um protozoário cosmopolita capaz de infectar diferentes animais,
tanto mamíferos, incluindo os humanos, quanto aves. Porém, apenas os felinos do
gênero Felis e Lynx são hospedeiros definitivos. O T. gondii é
agente etiológico da toxoplasmose, doença muito preocupante especialmente
durante a gravidez. O protozoário é capaz de fazer reprodução assexuada em todos
os hospedeiros e a reprodução sexuada acontece apenas nos felinos.
Morfologia
O
protozoário apresenta três formas infectantes:
Taquizoítos – Encontrados
apenas na fase aguda da infecção e se multiplicam rapidamente por endodiogenia ou endogenia. Esse processo é semelhante
a um brotamento invertido. A célula mãe origina dois taquizoítos filhos dentro
dela, que dividem as organelas e o núcleo da mãe e são liberados rompendo a
célula mãe.
Figura 1 – Esquema de reprodução por
endogenia.
Bradizoítos – Encontrados
durante a fase crônica da doença dentro de cistos no tecido. A multiplicação
ocorre de forma lenta dentro do cisto e podem ficar assim por anos.
Esporozoítos – São as
formas infectantes encontradas dentro do oocisto maduro. São de liberação
exclusiva dos hospedeiros definitivos (felinos).
Outras formas
(Somente encontradas no hospedeiro definitivo):
Merozoítos – Forma
gerada pela reprodução assexuada dentro do hospedeiro definitivo (felinos).
Microgameta – Forma
sexual masculina gerada a partir de um merozoíto, possui dois flagelos e são móveis.
Quando o merozoíto é liberado no intestino do felino e penetra em outra célula
intestinal, ele pode se transformar em um microgameta.
Macrogameta – Forma
sexual feminina gerada a partir de um merozoíto. Ao ser fecundada forma o
oocisto. Quando o merozoíto é liberado no intestino do felino e penetra em outra célula
intestinal, ele pode se transformar em um macrogameta.
Oocistos – Formados pela junção de um microgameta com um macrogameta. Inicialmente são imaturos e
dentro de um período de cinco dias no meio externo os esporozoítos em seu
interior amadurecem, tornando um oocisto maduro.
Ciclo biológico
Quando o
ser humano ou outro animal ingere alguma das formas infectantes, ela consegue
atravessar a mucosa e a partir daí entrar na corrente sanguínea, invadindo
vários tipos de células e tecidos, tudo isso na forma de taquizoítos, que irão
se reproduzir de forma rápida. Quando o hospedeiro começa a gerar uma resposta
imunológica, os taquizoítos não podem mais ser encontrados no sangue. Eles
passam para a forma de bradizoítos e ficam dentro de cistos nos tecidos,
reproduzindo-se lentamente e ficando inacessíveis aos ataques do sistema imune.
Podem permanecer ali durante anos e voltar à forma de taquizoítos se houver
alguma queda na imunidade.
A
reprodução sexuada ocorre no hospedeiro definitivo, o gato. A forma infectante
ingerida por um felino penetra nas células do intestino delgado e começa a se
reproduzir assexuadamente, formando merozoítos. Esses
merozoítos são liberados no intestino ao romper a célula e capazes de
infectarem novas células no intestino delgado, podendo se diferenciar em
gametas femininos (macrogametas) e masculinos (microgametas). Após esses
gametas se desenvolverem por completo, ocorre a fecundação, formando o oocisto
imaturo, que é excretado com as fezes do animal. Esses oocistos imaturos levam
de um a cinco dias para se tornarem oocistos maduros, sobrevivendo por até 18
meses no ambiente. No hospedeiro intermediário não ocorre formação de oocistos,
sendo essa uma forma exclusiva dos felinos.
Meios de transmissão
O
principal meio de contaminação é a ingestão de água e alimentos contaminados
com oocistos. Em seguida vem a ingestão de carne mal cozida contendo
bradizoítos e pela passagem transplacentária de taquizoítos da mãe para o
embrião/feto. A forma mais grave da toxoplasmose é a congênita, podendo levar a
complicações e à morte do feto.
Sintomatologia
A toxoplasmose
não possui um quadro clínico definido, sendo assintomática ou apresentando
sintomas muito variados. A gravidade da doença depende da cepa do parasito, bem
como a imunidade do indivíduo. Um sintoma comum é a inflamação da retina,
quando o parasito se aloja na retina ocular.
Diagnóstico
O diagnóstico
é feito por testes sorológicos, uma vez que a visualização do parasito em
métodos diretos é difícil. Podem ser feitos também exames moleculares como a reação
em cadeia da polimerase PCR (Polymerase Chain Reaction), exames
histológicos e a inoculação da amostra suspeita em um animal de laboratório. No
felino, além dos diagnósticos citados, existe a opção do exame parasitológico
de fezes, para ver se há a eliminação de oocistos.
Tratamento
O
tratamento é feito com combinações de fármacos e mesmo assim não são capazes de
eliminar completamente o parasito. A terapia é utilizada apenas na fase aguda e
recomendada em casos de sintomas oculares, imunodeficiência, para gestantes e recém-nascidos.
Os fármacos são bastante tóxicos, devendo ser administrado juntamente com ácido
folínico, para proteger a medula óssea. Se houver
sintoma de lesão ocular, receita-se um anti-inflamatório. Para acompanhar os
efeitos tóxicos dos remédios é recomendado a realização de exames semanais
durante o tratamento.
Profilaxia
A
profilaxia consiste no uso de água tratada, lavar bem os alimentos e não comer
carne crua ou mal passada, já as grávidas, devem fazer o exame pré-natal para
toxoplasmose e tomar todas as precauções para evitar a infecção caso não tenha
anticorpos.
As medidas de prevenção quanto aos gatos devem levar em consideração a limpeza da caixa de areia diariamente, já que os cistos precisam de pelo menos 24 horas para se tornarem infectantes, lavando-a com água fervente e detergente, pelo menos duas vezes por semana. Deve-se evitar delegar essa tarefa a grávidas e imunocomprometidos, se inevitável, eles devem usar luvas e lavar bem as mãos; ainda, alimentar os gatos apenas com alimentos processados ou cozidos, evitando que se contaminem; por fim, é necessário isolar e tratar gatos que estão liberando oocistos.
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Bons estudos!!!
Para a escrita desse texto
as referências abaixo foram consultadas
LITTLE,
Susan E. O gato: medicina interna. Rio de Janeiro: Roca, 2016.
Ebook. (1 recurso online). ISBN 9788527729468. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788527729468.
NEVES, David Pereira; MELO,
Alan Lane de; LINARDI, Pedro Marcos; VITOR, Ricardo W. Almeida. Parasitologia
Humana. 11 ed. São Paulo: Atheneu, 2004.
REY, Luís. Bases da parasitologia médica. 3. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2009. Ebook. ISBN 978-85-277-2026-7. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2026-7
SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo;
GOMES, Andréia Patrícia; SANTOS, Sávio Silva. SANTANA, Luiz Alberto. Parasitologia: fundamentos e prática clínica. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. Ebook. ISBN 9788527736473. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788527736473.
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